foto - Henrique Souza
- Desculpe perguntar...
- Sim?
- Tá vindo de onde?
- Seu nome é?
- Donna!
- Estou vindo de Cabo Frio, Donna..
- Ah tá. Aqui do lado. Pensei que viesse de longe.
- Dependendo do tamanho do veleiro, da força do vento e do estado da MAR, o perto vira longe.
- Como assim?
- Na hora do perrengue o tempo se arrasta e as distâncias amplificam-se.
- Função de que?
- Do perigo e do conseqüente medo.
- Tendi. Porque diz a MAR e não o MAR?
- Porque pra mim o mar é feminino em tudo.
- Primeira vez que ouço isto.
- Pense a respeito.
-J á comecei. Sabe? Faz um tempão que estou lhe observando.
- Percebi. Posso saber porque Donna?
- Sou artista multimídia e estou produzindo um vídeo chamado “Mãos em ação.”
- Interessante.
- Filmo as mãos das pessoas em close e raio x. Depois edito as imagens ao som de música instrumental, escolhida especialmente para série em questão.
-Tendi, só aparecem os ossos contra o fundo preto. Conta mais!
- Já filmei mãos de padeiro, de massagista, de médico, de motorista, de barbeiro, de artesão, de vários tipos de artista... Vendo você manipular as velas da sua canoa, fiquei encantada...
- Verdade?
- Grande riqueza de movimentos.
- Nós velejadores usamos muito as mãos.
- Demais!
-Também temos o aperto de mão mais firme do mundo...
-Deixa eu ver... Uauuuuu!!!!
Gostou?
-Delícia! Nem os melhores artesãos são capazes de um desses. Bis!
-Mnnnhhhnnnnn... Gente, minha mão nunca foi tão bem apertada! Mulheres do meu Brasil, o verdadeiro aperto de mão é o do velejador. Transmite confiança, honestidade e otimismo.
-Prefiro o das velejadoras...
-Qual a diferença?
-É tão firme quanto, sem perder a ternura jamais.
-Me ensina a velejar, só pra eu adquirir o aperto de mão mais deleitoso do planeta?
-Em quinze minutos.
- Só?
- Só. Depois você vai passar o resto da vida aprendendo a velejar bem.
-A primeira aula poderia ser agora?
-Poderia...
-Oba!
-Poderia, mas infelizmente não pode Donna.
-Porque não? Sei nadar bem, tenho filtro solar na bolsa e estou de biquíni por baixo...
-Biquíni não é a roupa ideal pra se velejar, o vento está soprando forte demais para uma primeira vez e você bebeu cerveja, que eu vi.
-Ih, dei com um velejador sério! Fica pra próxima?
-Claro! Seu telefone é?
- Gosto de telefone não. Anota meu mail: lindonna25@hotmail.com
- Feito! O meu é estreladalvacabofrio@yahoo.com.br
- Anotado. Última pergunta.
- Sim?
- De quais velejadoras você gostaria de apertar a mão right now?
- De todas!
- De todas é querer demais. Diga cinco.
- Bem... pra começar das primeiras e únicas medalhistas olímpicas brasileiras da vela.
- Fernanda Oliveira e Isabel Swan?
- Exato!
- Faltam três.
- Karen Leibovici, Florence Arthaud, Lianne Liardet e Ellen McArthur.
- Foi a seis...
- Deixo então você dizer o nome dos seis velejadores cuja mão você adoraria apertar agora mesmo.
- Bem... Robert Scheidt, Torben e Lars Grael, Aleixo Belov, André Homem de Mello e Amyr Klink.
- Posso lhe confessar uma fantasia?
- Sexual?
- Não!
-Ahhhhh que pena... Mas conta! Conta que toda fantasia é bem vinda, nesse mundo em que a realidade é eventualmente mais louca que a mais louca fantasia.
- Eu queria ser o homem-elástico (elongated man) pra me esticar todo. Pra me esticar bastante. Pra me esticar terrivelmente até me tornar a escota da buja do histórico 470, com o qual a Fernanda Oliveira e a Isabel Swan conquistaram a inédita medalha de bronze nas últimas Olimpíadas de Pequim.
- Tendi, a Isabel teria passado o tempo todo agarradinha em você... Ué, mas porque a escota da buja e não da mestra?
- Porque a Fernanda Oliveira vai se casar (com o perdão do verbo casar ) em breve e a Isabel vai posar nua pra Playboy.
- Espertinho...
- Driblar o tempo todo o famígero casal Netuna-Éolo não é fácil não. Impossível ser velejador, sem ser muito esperto.
- Vai comprar a revista?
- Claro, mas temo que vou me decepcionar com as fotos.
- Porque meu deus?!!
- Não será por culpa da plástica da Isabel Swan que é perfeita, mas do pobre estilo dos fotógrafos da revista Playboy.
- Quem você gostaria que fotografasse a Isabel Swan?
- Robert Mapplethorpe, Richard Avedon ou Edward Weston.
- Como?
- Em preto e branco, lógico, velejando nua um ágil Moth (ando apaixonado por este barquinho que voa em vez de velejar) ao sabor do famoso nordestão da Costa do Sol/Região dos Lagos.
- Onde?
- Entre a ilha Comprida e a praia do Peró, justamente na hora em que eu viesse passando com minha inseparável “Estrela d’Alva”.
- Tendi, se ela se desequilibrasse e caísse n’água, imagino que você a resgataria.
- Prontamente!
- Fiquei com ciúmes agora, viu?
- Ciúmes de um mísero canoeiro com a super-proeira-de-um-olímpico-470? Onde já se viu, Donna?
- Mísero? Duvido! Quem tem um barco à vela, qualquer barquinho à vela, é um rei!
- Rei de que linDONNA?
- Pra começar, rei do aperto de mão. Me dá mais um?
- Mmmmnhhhh...
Conversa em parte real, em parte fictícia, que tive com uma certa candidata a “proeira” da “Estrela d’Alva”.
Extrato da newsletter nº 19 de 2 de novembro de 2008 - projeto "Estrela d'Alva"
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