Já falamos do russo Fred Rebell.
Já falamos do canadense Howard Blackburn.
Já falamos do canadense Howard Blackburn.
Já falamos do espanhol Julio Villar.
Já falamos do francês Bernard Moitessier.
Vamos falar agora do norte-americano Alfred Johnson, que junto com os anteriores foi um dos primeiros, maiores, únicos e últimos velejadores solitários de todos os tempos e lugares.
À semelhança do Fred Rebell, Alfred Johnson só se utilizou de instrumentos rudimentares de navegação.
À semelhança do Howard Blackburn, Alfred Johnson foi um humilde pescador de bacalhau e alabotes sôbre o grande alto fundo da ilha de Terra Nova no norte do Canadá.
Ao contrário do Julio Villar, Alfred Johnson nada escreveu sôbre sua aventura pioneira.
Ao contrário do Bernard Moitessier, Alfred Johnson não deu nenhuma volta ao mundo.
À semelhança de um certo Fernando Costa , Alfred Johnson, transformou, com a ajuda dos amigos, uma simples canoa a remo em cotre marconi, dotado de uma vela redonda extra, para o vento de popa.
Como já disse, Alfred Johnson era um humilde pescador, que até então nada tinha feito de original na vida, quando de repente lhe deu na telha, uma idéia fixa. Não sei se voces se lembram, mas o grande Machado de Assis, no seu impagável clássico “MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS” nos alerta quanto ao perigo das idéias fixas, nos seguintes termos:
"Deus te livre, leitor, de uma idéia fixa; antes um argueiro, antes uma trave no olho."
Machado de Assis
Amigos, alguns se livram do câncer, mas ninguém, absolutamente ninguém se livra de uma idéia fixa. Em algum lugar do passado, nosso Amir Klink foi atacado pela idéia fixa de atravessar o Atlântico Sul a remo. A idéia fixa que acometeu Alfred Johnson foi cruzar o Atlântico Norte a bordo de um pequenino doris à vela em solitário. Coisa que ninguém havia feito, nem pensado fazer, antes dele.
Mas maluco é assim mesmo. Maluco faz o que as pessoas normais não tem nem coragem de pensar.
Para desespero de seus familiares e colegas pescadores, que apostavam que ele jamais sobreviveria a tamanha insensatez, Alfred Johnson partiu de Gloucester dia 15 de junho de 1876, com a intenção de chegar a Liverpool na Inglaterra. Entre uma cidade e outra existem nada menos que 3 000 milhas náuticas de oceano a percorrer.
No meio do caminho duas violentas tempestades o emboscaram. Durante a primeira uma onda alagou sua diminuta embarcação, destruindo parte dos seus víveres e surripiando sua vela redonda. Durante a segunda uma vaga emborcou seu pequenino “Centenário”, pois que este foi o nome de batismo do seu doris à vela. Já vamos saber porque.
Deixo voces imaginarem o hercúleo trabalho de retirar o mastro, desvirar, esgotar e recolocar o mastro de um veleiro, por menor que seja, em pleno oceano.
O intrépido Alfred Johnson, amigos, seguiu corajosamente viagem a bordo de seu doris à vela de apenas 6,10 metros de comprimento, dotado de convés parcial, ou seja um bote de boca aberta, no dizer dos pescadores aqui de Cabo Frio, e chegou a Liverpool em 10 de agosto de 1876, realizando a primeira travessia em solitário do Atlântico Norte. Tendo recebido como única ajuda durante a sua memorável façanha, apenas água e alguns pães de um outro navio. Foi festejado como heroi, mas quando, tempos depois lhe perguntavam sôbre a sua inédita façanha ele respondia assim:
Mais dificil ainda foi resistir à tentadora proposta do comandante de um certo navio que o interceptou ainda no início de sua travessia.
- What is your name, sailor?
- Alfred Johnson, sir.
- What is your name, sailor?
- Alfred Johnson, sir.
- Qual sua idade?
- 29 anos, senhor.
- Está há quanto tempo no mar, marujo?
- 13 dias, senhor.
- Qual era o nome do seu navio?
- Não sou náufrago, senhor. Parti de Gloucester e pretendo chegar a Liverpool, no Reino Unido a bordo do meu doris à vela.
- Macacos me mordam! Doris à vela?! Ha! Ha! Ha! Isso aí é uma banheira furada e das ruins! Tá maluco rapaz?
- Talvez senhor...
- Vou mandar te recolher agora mesmo! Você e sua canoa de meia tigela! Homens!
- Não faça isso capitão!
- Como não?! Prefere ser mais um, a apodrecer no largo estômago de Netuno?
- Não senhor!
- Mas me diga! O que é que voce quer provar com esse seu ato de bravura inútil?
- Estou apenas celebrando o centenário da independência dos Estados Unidos da América à minha maneira, senhor!
- Voce tá é doido! Vou mandar te recolher imediatamente e daqui a doze dias vamos te desovar durante à noite, com tempo bom, a cinco milhas da costa inglesa. Sigilo absoluto. Glória sem pena. Pra que arriscar a vida à toa, marujo?
- Obrigado capitão, mas se me permite, pretendo chegar à Inglaterra com meus próprios meios.
- Deixa de ser idiota marujo! Estou te oferecendo tudo que voce não tem a bordo do seu caiaque de m... Comida quente. Água doce. Cama seca. E o privilégio de olhar pro traseiro da Raimunda uma vez por dia. Só olhar, viu? Só olhar! Só olhar! Porque a cozinheira Raimunda me pertence! Ha! Ha! Ha ! Ha! Olhar pode. Tirar fotos pode. Perguntar pode. Tocar, não pode! Se tocar eu apito. Piiiiiiiiiiiiiiihhh hhhhhhhh! Ha! Ha! Ha! E então? Tomou sua decisão?
- Mais uma vez muito obrigado senhor!
- Obrigado sim ou obrigado não?
- Obrigado não, senhor capitão.
- Diabos! Quanto mais eu rezo mais assombração me aparece. Vai maluco!
- Boa viagem capitão!
- Boa morte maluco!
O intrépido Alfred Johnson, amigos, seguiu corajosamente viagem a bordo de seu doris à vela de apenas 6,10 metros de comprimento, dotado de convés parcial, ou seja um bote de boca aberta, no dizer dos pescadores aqui de Cabo Frio, e chegou a Liverpool em 10 de agosto de 1876, realizando a primeira travessia em solitário do Atlântico Norte. Tendo recebido como única ajuda durante a sua memorável façanha, apenas água e alguns pães de um outro navio. Foi festejado como heroi, mas quando, tempos depois lhe perguntavam sôbre a sua inédita façanha ele respondia assim:
- Agi como um perfeito débil mental. Não aconselho ninguem a seguir meu exemplo.
Fernando Costa
Newsletter n° 5 de 5 de março de 2008 - projeto Estrela d'Alva
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