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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A última das ilhas - diário da Estrela - newsletter 12 de 2008

Estrela d'Alva a plena carga, amarrada ao pier de Transtlânticos em Cabo Frio,
 prontinha pra "levantar vôo".
foto - Evandro Lopes

Como vocês sabem, minha última expedição foi para Arraial do Cabo, lá onde o sol passa o inverno. Curiosos pra conhecer os dois pontos mais altos desta pequena-grande aventura?
O primeiro ponto alto foi conhecer o casal de velejadores P. e I. do trimaran PRT, na enseada da praia do Forno. Integrantes do movimento "LowTech" da vela e campeões mundiais de simpatia. Eles estão há seis meses na MAR, mas não possuem planos para o futuro, nem rumo definido. Maravilha não? Enfim um casal de “macróbios humanos” verdadeiramente livres. Digo “macróbios humanos” com todo carinho, viu? Queria contar outras coisas interessantes a respeito deles, mas, mais não direi, porque eles detestam o alarde e à celebridade preferem o anonimato.
O segundo ponto alto foi circunavegar a última ilha que faltava à minha atual coleção de vinte ilhas, que se estendem ao longo da Costa do Sol entre o Cabo Búzios e o Cabo Frio.
Suponho que os que não conhecem essa paradisíaca região, imaginem essas vinte ilhas cheias de pequeninas e mansas praias, coqueiros românticos, mais lagoas, riachos e cachoeiras de água doce. Engano. Ledo engano. Essas ilhas, amiga leitora, apesar de relativamente próximas à costa são selvagens. Lindas, mas selvagens. O casal de ilhas dos Franceses, por exemplo, são dois rochedos inóspitos constantemente fustigados pelos ondas. Dia 7 de junho, sábado passado, 11 horas da manhã, partimos da enseada da praia dos Anjos, eu e minha querida canoa à vela e a remo “Estrela d’Alva”. O vento soprava fraco de NE, mas por volta do meio dia rondou bruscamente para SW. Fomos orçando rumo ao sul, com todo cuidado, no meio do belo canal que separa a ilha de Cabo Frio do continente. Dois perigos: as fortes rajadas de vento vindas do alto do morro do Atalaia, mais os “ondões” que se formam por cima dos baixios, no través da ponta do Veado, em especial na baixamar, prevista naquele dia para às 11h 49. Passamos por Maramutá, Prainhas do Pontal e chegamos à garganta de pedra do Boqueirão. Na ausência de um proeiro, consultei como costumo fazer minha inseparável "Estrela d’Alva".



A mar tá encarneirada lá fora Estrela...
- Qual o problema?
- Vamos assim mesmo?
- Claro que vamos! Faz um ano que ansio por este momento, que você sempre adia, contra minha vontade.
- Veja bem, Estrela, tem um swell irado atropelando as ondas menores de 30 em 30 segundos.
- Faz mal não, eu pulo por cima dele.
- É por isso que eu te chamo de intrépida!
- Vamos nessa?
- Vamos Estrela!
- Cruzamos o Boqueirão e velejamos com dificuldade rumo ao casal de ilhas dos Franceses. Vento na cara, mar na cara, sol na cara.
- A Estrela d’Alva, coitada, bebeu mais de trinta litros d’água salgada, sem esmorecer. Deixamos as ilhas por boreste e passamos pela primeira vez pelo exato ponto onde a fragata "Dona Paula" afundou em perseguição ao pirata Fournier em 2/10/1827. Senti um arrepio, ao cruzar a bordo da minha frágil e instável canoinha, o braço de mar, onde uma pedra fendeu o casco da enorme fragata. Na volta pegamos mar e vendo de alheta. Alheta de boreste. Mas as ondas haviam crescido de tamanho e o traiçoeiro swell, aliado à onda-eco rebatida pelo paredão de pedra do Morro do Atalaia, quase que nos virou umas três vezes. A entrada no Boqueirão foi mais difícil que a saída. Porque? Porque a corrente de NE fermentou as ondas vindas de sul. E mais, o vento de SW fazia pressão nas velas da Estrela enquanto a corrente freáva-lhe o casco. Pra complicar ainda mais a situação, quando estávamos bem no meio da garganta do Boqueirão, quem é que aparece a toda velocidade? Vou deixar vocês adivinharem. Qual é o pior inimigo do velejador?

Pontal do Atalaia fotografado da ilha de Cabo Frio, no cantinho esquerdo avista-se (será?)
o casal de ilhas dos Franceses

Um lancheiro! Acertaram! O lancheiro como de costume não reduziu a velocidade atiçando ainda mais as perversas ondas contra os flancos estreitos da Estrela. Se eu não fosse além de marujo equilibrista... Sei não. Sobrevivemos felizes da vida. Ou melhor, meio alegres meios tristes. Alegres porque circunavegamos mais uma ilha. Tristes porque esta foi a última das ilhas. Resumindo, não sobrou nenhuma ilha virgem na Costa do Sol pra contar a minha estória. Comi todas. Perdão, deflorei todas. Perdão, conquistei todas. Todas as 20 ilhas selvagens que se estendem entre Búzios e Arraial do Cabo, sem excessão, a bordo de uma casquinha de noz de nada.
Pra você que ainda não as conhece eu apresento: Rasa ( a menos selvagem e a única habitada ), Feia ( possui uma pequena praia em sua ponta sul ), Caboclo ( a mais próxima de terra, pra chegar até ela, basta nadar uns cem metros, mas foi lá que bati com a bolina da Estrela d'Alva na pedra ), Branca, Âncora ( a mais distante de terra - 5 milhas ), Gravatá, Filhote, Breu, Emerência de Dentro, Emerência de Fora, Pargos ( minha predileta no momento ), Capões, Redonda, Comprida, Dois Irmãos, Papagaios ( a primeira que circunaveguei em solitário e a remo ), Pontal, Porcos, Cabo Frio ( possui uma pequena praia na sua ponta sul ), Franceses. ( circunavegada pela primeira vez dia 7/6/2008 por volta das 16h )

ilha dos Papagaios em Cabo Frio, a primeira que circunaveguei a remo
foto - Fernando Costa

Queria deixar aqui uma sugestão. Trocar o nome da ilha Feia pra Bonita. Ela merece. Há cinco anos atrás quando circunaveguei a remo, em companhia de um certo parceiro, a ilha do Pontal, jamais poderia imaginar que chegaria tão longe. Uma verdadeira façanha. Porque? Simplesmente porque a “Estrela d’Alva” tem apenas 4,86 metros de comprimento, por 1,30 metros de boca máxima e uma área vélica imensa.

Extrato da newsletter n° 12 de 16 de junho de 2008 - projeto "Estrela d'Alva"

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